Forever Young

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"Lévi-Strauss me levou a pensar muitas coisas sobre o país", diz Caetano Veloso.








Compositor cita o antropólogo na letra de 'O estrangeiro'.
Música revela as impressões do francês sobre a Baía da Guanabara.



Caetano Veloso citou uma observação do antropólogo Claude Lévi-Strauss em um dos primeiros versos da música “O estrangeiro”, faixa de abertura do álbum de mesmo nome lançado pelo cantor em 1989. “O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara/Pareceu-lhe uma boca banguela”, dizia a letra, que de certa forma contribuiu para divulgar ainda mais a obra do francês e sua relação com o Brasil. Em entrevista por e-mail ao G1, Caetano Veloso conta a história da música e de sua admiração pela obra de Lévi-Strauss:

G1 - O que te levou a incluir a citação a Lévi-Strauss na letra da música “O estrangeiro”?
Caetano -
A vontade de abrir a canção citando olhares estrangeiros sobre a Baía de Guanabara: tinha a declaração de Gauguin, a de Cole Porter (ambas elogiosas) e eu quis juntar a de Lévi-Strauss, depreciativa.

G1 - De onde você buscou esta referência?
Caetano -
Do livro "Tristes Trópicos". Nesse livro maravilhoso, Lévi-Strauss pede desculpas por discordar de todos que acham o Rio bonito e declara que, para ele, a cidade não tem nenum encanto e as proporções entre a baía e as rochas que a circundam (Pão de Açúcar, Corcovado, Urca e pedras menores) dão a impressão de uma boca desdentada: os promontórios seriam muito pequenos para o tamanho da baía.

G1 – Para você, qual foi a importância de Lévi-Strauss na concepção de Brasil?
Caetano
- Na verdade, para mim foi muito grande. Ler "Tristes Trópicos" me levou a pensar muitas coisas sobre nosso país de um modo que não seria possível antes. O trecho sobre a USP é muito comovente e ainda instiga. Ainda hoje, no livro "Saudades do Brasil", a ideia de que os vasos marajoara são vestígios de uma grande civilização amazônica de onde teria saído a grande cultura andina (e não o caminho inverso) joga uma luz diferente sobre a maneira de sentirmos o significado de nossa terra.

O Estrangeiro

Caetano Veloso

O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara
O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela
A Baía de Guanabara
O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?

O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem

Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?
Uma arara?
Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara
Em que se passara passa passará o raro pesadelo
Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro
Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante deareia brancae de óleo diesel
Sob meus tênis
E o Pão de Açucar menos óbvio possível
À minha frente
Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas
À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura
Do branco das areias e das espumas
Que era tudo quanto havia então de aurora

Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas
E uma menina ainda adolescente e muito linda
Não olho pra trás mas sei de tudo
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo
Mas eu não desejo ver o terno negro do velho
Nem os dentes quase não púrpura da menina
(pense Seurat e pense impressionista
Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda
Mas não pense surrealista que é outra onda)

E ouço as vozes
Os dois me dizem
Num duplo som
Como que sampleados num sinclavier:

"É chegada a hora da reeducação de alguém
Do Pai do Filho do espirito Santo amém
O certo é louco tomar eletrochoque
O certo é saber que o certo é certo
O macho adulto branco sempre no comando
E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo
Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita
Riscar os índios, nada esperar dos pretos"
E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento
Sigo mais sozinho caminhando contra o vento
E entendo o centro do que estão dizendo
Aquele cara e aquela:

É um desmascaro
Singelo grito:
"O rei está nu"
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú
E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo
E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.
("Some may like a soft brazilian singer
but i've given up all attempts at perfection").


PS: Caetano Veloso viaja na maionese né... é necessário umas ervas fortes pra entender... rsrs.  Estava pensando nessa música nesses dias e resolvi pesquisar sobre. muita doideira !!
Boa semana, pessoal !!

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1365394-5603,00-LEVISTRAUSS+ME+LEVOU+A+PENSAR+MUITAS+COISAS+SOBRE+O+PAIS+DIZ+CAETANO+VELOSO.html

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